A historiadora Laura de Mello e
Souza, analisando a sociedade mineradora do século XVIII, considerou as
festas religiosas ali realizadas, um elemento de manipulação social. A pompa
e o fausto expressavam a riqueza colonial, a euforia coletiva, numa sociedade
em que a maioria era de pessoas desclassificadas, desde escravos até homens
livres e pobres.
A festa
barroca agradava os sentidos do povo. Ela criara a falsa impressão de que a
riqueza é algo desfrutado por todos, ocorrendo a “neutralização dos conflitos
e diferença, criando a ilusão de que a sociedade mineira era rica e
igualitária”. Ou seja, todo o fausto e ostentação eram falsos.
Segundo a historiadora:
“Parece
não ter limites a pompa então presenciada por Vila Rica: danças, alegorias,
cavalhadas, figuras a cavalo representando os Quatro Ventos, todos
luxuosamente vestidos e enfeitados com pedras preciosas. O bairro do Ouro
Preto, onde se situava a Matriz, também foi representado, ao lado da Lua, das
Ninfas, de Marte, de Vênus, de Mercúrio, de Júpiter, do Sol, da Estrela
d'Alva e da Vespertina, entre muitas outras figuras. O Conde das Galvêas,
governador das Minas, assistiu às festas juntamente com ‘toda a Nobreza, e
Senado da Câmara’, e Simão Ferreira Machado diz não haver lembrança ‘que
visse o Brasil, nem consta, que se fizesse na América ato de maior grandeza’.”
(Adaptado de SOUZA, Laura de
Mello e. "Desclassificados do Ouro". Rio de Janeiro, Graal, 1990,
pp. 20-23)
Agora
é com vocês. Está aí um teste da Uff de 2005, já com o gabarito da
alternativa correta.
“ As
festas e as procissões religiosas contavam entre os grandes divertimentos
da população, o que se harmoniza perfeitamente com o extremo apreço pelo
aspecto externo do culto e da religião que, entre nós, sempre se manifestou
(...). O que está sendo festejado é antes o êxito da empresa aurífera, do
que o Santíssimo Sacramento. A festa tem uma enorme virtude congraçadora,
orientando a sociedade para o evento e fazendo esquecer da sua faina
cotidiana.(...). A festa seria como o rito, um momento especial construído
pela sociedade, situação surgida "sob a égide e o controle do sistema
social" e por ele programada. A mensagem social de riqueza e opulência
para todos ganharia, com a festa, enorme clareza e força. Mas a mensagem
viria como cifrada: o barroco se utiliza da ilusão e do paradoxo, e assim o
luxo era ostentação pura, o fausto era falso, a riqueza começava a ser
pobreza, o apogeu decadência" (Adaptado de SOUZA, Laura de Mello e.
"Desclassificados do Ouro". Rio de Janeiro, Graal, 1990, pp.
20-23) Segundo a autora do texto, a sociedade nascida da atividade
mineradora, no Brasil do século XVIII, teria sido marcada por um
"fausto falso" porque:
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a)
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a
mineração, por ter atraído um enorme contingente populacional para a região
das Gerais, provocou uma crise constante de subalimentação, que dizimava
somente os escravos, a mão de obra central desta atividade, o que era
compensado pela realização constante de festas;
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b)
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o
conjunto das atividades de extração aurífera e de diamantes era volátil,
dando àquela sociedade uma aparência opulenta, porém tão fugaz quanto a
exploração das jazidas que rapidamente se esgotavam;
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c)
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existia
um profundo contraste entre os que monopolizavam a grande exploração de
ouro e diamantes e a grande maioria da população livre, que vivia em estado
de penúria total, enfrentando, inclusive, a fome, devido à alta
concentração populacional na região;
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d)
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a
riqueza era a tônica dessa sociedade, sendo distribuída por todos os que
nela trabalhavam, livres e escravos, o que tinha como contrapartida a
promoção de luxuosas cerimônias religiosas, ainda que fosse falso o poderio
da Igreja nesta região;
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e)
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a luxuosa
arquitetura barroca era uma forma de convencer a todos aqueles que buscavam
viver da exploração das jazidas que o enriquecimento era fácil e a ascensão
social aberta a todas as camadas daquela sociedade.
Alternativa
C.
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